domingo, 7 de agosto de 2011

Boa tarde

Boa tarde, anjo meu. Digo tarde por saber que é sempre neste horário que tu sentas em tua poltrona florida para ler cartas e jornais antigos; e ressalto que ainda amo este costume. Mas o que lerás agora, amor, te adianto que custou-me muito para escrever; não por ter de escolher palavras bonitas ou galanteios, mas pela verdade doída que transcrevo na forma caligrafada.
Escrevo, minha primavera, pra dizer que jaz aqui o fim de um amor. Não o meu — e acredito que nem o teu — mas o que um dia foi nosso. Tu sabes muito bem que aquele romance bonito, doce e cristalino que criamos para nós perdeu os narradores e hoje só faz flutuar, incompleto, pelas páginas em branco da nossa história. Eu sei que tu agora não entendes nada - nem deverias -, e dói em mim ter de explicar-te porque é como catucar uma incurável ferida antiga. De qualquer forma, é de teu direito a bendita explicação desatada: andei pensando e acho que devemos seguir em frente. Juntos não deu certo porque somos peças idênticas de um quebra-cabeça, mas, então, que procuremos pelos nossos opostos e assim, talvez, possamos nos embriagar com infinitas doses de felicidade. Eu jamais irei esquecer-te porque tu me marcaste como fogo marca papel e beijo marca moça apaixonada, e por tanto amar-te sugiro que vás em busca de uma história mais alegre ou um amor mais certeiro. E se eu infelizmente não tenho forças para dizer-te isso pessoalmente (já que meu medo de fraquejar e implorar-te que volte é imenso), mando-te uma carta perfumada e decorada com todo o meu amor. Nela também peço que não sofras, minha flor. Sabes bem que tens qualidades que lhe credenciam ao amor de qualquer outro rapaz, e que este te será muito melhor do que eu fui para ti.
E com o coração um pouco mais acalentado (mas não menos doído), desejo-lhe a mais intensa felicidade e o mais belo amor.
Adeus…

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